Há mais de um século o austríaco Edward Konrad Zirm realizou o primeiro transplante de córnea bem sucedido em um operário que feriu os olhos com soda cáustica. Desde então, a cirurgia evoluiu muito com novos antibióticos, uso de microscópio, antiinflamatórios e imunossupressores, conservação da córnea, etc.
Além disso, diferentemente da técnica tradicional e única utilizada até pouco tempo atrás, em que se trocava toda a córnea, agora já se desenvolveram outras técnicas em que se troca apenas a camada doente da córnea – um mesmo doador resolve doenças distintas em dois pacientes diferentes. São os chamados Transplantes Lamelares (anteriores ou posteriores).
Na patologia chamada ceratocone, por exemplo, doença que em casos avançados apresenta um afinamento e um encurvamento corneano nas camadas superficiais ou externas da córnea, pode-se realizar o Transplante Lamelar (TL) da córnea.
O transplante lamelar anterior profundo é uma técnica através da qual se retira somente o estroma corneano (a parte doente da córnea), mantendo-se a membrana de Descemet e o endotélio, que são as camadas mais profundas.
Esta técnica tem as vantagens de recuperação visual mais rápida, risco mínimo de rejeição da córnea doadora e maior tempo de sobrevida do transplante, pelo fato de preservar as células endoteliais do próprio paciente (receptor). É indicada também para outras patologias situadas na região superficial da córnea.
Outra forma de Transplante Lamelar (TL) é o transplante posterior, chamado de transplante de endotélio. Este é o mais novo método de cirurgia avançada de córnea. Pode ser indicado para tratar doenças que afetam a porção posterior (interna) da córnea, como a doença de Fuchs e a ceratopatia bolhosa (descompensação da córnea) após cirurgias intraoculares.
Nesta técnica, apenas a camada endotelial, disfuncional, da córnea é substituída por tecido doador saudável, sem a necessidade de cortes na superfície ou pontos. Nos casos em que é indicada, essa técnica proporciona um resultado refrativo e visual mais rápido e melhor, se comparado com os transplantes de córnea convencionais, também chamados transplantes penetrantes (TP).

Essas novas técnicas representam um grande avanço em relação ao tempo de recuperação da visão, da diminuição significativa das complicações pós-operatórias, e da rejeição à nova córnea tornando a vida do paciente transplantado muito melhor.
Dr. José Roberto M. Castro é Diretor Clínico, Chefe do Centro Cirúrgico e do Serviço de Transplante de Córnea do Hospital de Olhos de Blumenau e Chefe do Serviço de Transplante de Córnea do Hospital Santa Isabel

